Maria Firmina dos Reis é autora do romance Úrsula, considerado o primeiro livro abolicionista do Brasil, além de um dos primeiros livros escritos por uma mulher no país.
Maria Firmina dos Reis foi uma escritora humilde – não só em suas origens, mas também em relação ao seu talento. Não assinava seus livros e costumava escrever no prefácio apenas a frase: “pouco vale este romance, porque escrito por uma mulher, e mulher brasileira, de educação acanhada e sem o trato e conversação dos homens ilustrados”, dizia com uma sinceridade que chega a cortar a carne dos leitores, tanto do passado quanto do presente.
Maria Firmina dos Reis nasceu em São Luís, no Maranhão, em 11 de março de 1822. Bastarda, foi registrada com o nome de outro homem no lugar de seu pai biológico. Do pouco que é conhecido sobre ela, sabe-se que era filha de uma mãe branca e de um pai negro – e provavelmente escravo. Em 1830 mudou-se com a família para São José de Guimarães, no qual viveu parte de sua vida com uma tia por parte de mãe com uma boa situação financeira, o que deu à ela a oportunidade da alfabetização e da cultura literária. Em 1847, Maria Firmina começou a exercer a profissão de professora primária, e deu aulas até 1881.
No entanto, no ano de 1859, Maria Firmina foi pioneira na literatura negra escrita por uma mulher no Brasil. Lançou o que foi mais tarde considerado o primeiro romance nacional, Úrsula, no qual o pano de fundo da história era a escravidão. Apesar do nacionalismo presente na época, a obra narrava com realismo o cotidiano de mulheres negras livres e escravas no país, o que chamou a atenção dos leitores. Por outro lado, o conteúdo do romance que contava a trajetória trágica do triângulo amoroso entre Úrsula, seu tio comendador e o jovem Tancredo, apresentando características presentes nos romances góticos.
Maria Firmina dizia que tinha certeza de seu lugar na sociedade. Criada em uma interseção entre a riqueza e a pobreza, a escritora afirmava que o fato de não ter estudado na Europa, nem dominar outros idiomas, características comuns entre os homens e mulheres bem educados na época, por si só já mostrava o lugar que ocupava na sociedade. Segundo Firmina, mesmo sabendo do “indiferentismo glacial de uns” e do “riso mofador de outros”, não se deixava intimidar: “ainda assim o dou a lume”, desafiava.
Em 1880, a autora teve uma iniciativa bastante à frente do seu tempo, e apesar da resistência que enfrentou da sociedade – principalmente por ser negra e mulher – fundou uma escola gratuita e mista, para meninos e meninas, sem separá-los pela cor da pele. A inauguração da escola foi um escândalo no povoado de Maçaricó, no Maranhão, o que culminou no fechamento da escola em menos de três anos.
A obra de Maria Firmina dos Reis atuou como um divisor de águas na literatura brasileira, como também na representatividade negra e feminina. Firmina abriu espaço para que nomes como a autora Carolina Maria de Jesus e Conceição Evaristo se estabelecessem como escritoras no Brasil, apesar do preconceito por serem mulheres, pobres e negras. Na ala masculina, estão nomes como Lima Barreto, Antônio Gonçalves Teixeira e Souza, Cruz e Sousa e os mestiços Machado de Assis e Mário de Andrade. Maria Firmina foi pioneira em diversas nuances da sociedade e, sem ela, tanto a retratação do cotidiano dos negros na literatura quanto a posição do negro como escritor(a), seriam completamente diferentes – e talvez tivesse ocorrido um atraso bem maior do que o já existente na literatura afrodescendente em nosso país.
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